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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Alice no país da verdade

Alice, cortou os pulsos
De seu corte esvaíram-se sonhos
Que mancharam o tapete do seu quarto
Tapete que ganhara de sua tia Inácia
Após tê-lo trocado por quadro bisonho
No quarto, cartas e taças espalhadas ao chão

A dor da navalha que abrira pulsos e as veias
Feriram a todos de sua família, até o vô Pedro:
Que nunca chorara, desabou em lágrimas incessantes
Feridas são coleções de dores; que guardamos junto à cabeceira da cama
Fantasiadas às paranoias de outrora, de bem antes

Cassandra, sua mãe, vivera sempre dosada em remédios
Desde quando o marido havia amputado sua vida
De maneira irônica a trajetória da vida pode ser trágica
Se ajoelhava chorando pela filha em frente a um quadro
Mas parecia que nada ouvia Nossa Senhora Aparecida

Alice ao cortar os pulsos projetou-se involuntariamente na eternidade
No abismo sinistro de seus medos que tanto a sufocara durantes anos
Ela havia sonhado muito, mas tudo agora não passava de repúdios;
Tristezas cobriram seus olhos azuis... A eternidade a seduzira
Para um abstrato não muito diferente do seu real
O nada lhe abraçou num aperto cortante, soturno, frio e sem fim

(Bruno de Santana Cruz/Thalles Nathan) 10/02/12

Encontro com a solidão

A solidão entrou pela janela que me esqueci de fechar
Veio sem convite, sem passe, sem nada, impulsionada apenas pelo vento
Veio me contar histórias, vangloriar-se de suas vitórias, me por pra dormir
Não mediu palavras, não mediu seus atos e o pior de tudo, não mentiu.


As marcas de suas mãos, frias e gélidas rasgaram meu rosto num fraco impulso
Combatente sem armadura, guerrilheira se noção... Deslumbra o caos 
Retrocede os olhos cegos às mesmas velhas molduras sujas, sem cor
Faminta de sonhos e planos, mas não os meus, não meus superestimados desejos.


Puxei o último vão de ar e cuspi na parede o muco verde com as velhas mágoas
Apunhalei a solidão com meus rojões lúcidos de boas lembranças
Com gosto de vinhos amargos que degustei em esquinas de becos sem fim
Embriagada e só, ela se foi, atormentar outro louco amarrado em ruínas de lembranças.

(Bruno de Santana Cruz/ Thalles Nathan)

Prólogo

Amor, adjetivo do ilusório.
Crê que meu querer seja dissoluto
Absorto velejei escarcéus 
Outrora era só desejo absoluto 
Todavia seguiu caminho torto

Ardor desentoou a suntuosa fonética
Navio que tantas vezes desatracou do porto
Atracou-se em alguns outros 
Soube esperar seu retorno
Que os mares sintam o peso do meu poema
À margem do todo dissabor

Absorto, padeço do martírio. 
Vê que se me render acaba meu penar 
Amor são todos os segundos antes,
Do navio perde-se ao mar encapelado
... É só o prólogo. 

(Thalles Nathan) 12/08/2011

Meu silêncio

São meus impulsos calados
Meu coração aberto cerrado em punhos trancados 
Tramas sonhados, desejos disfarçados... Olhares escondidos

Vou renascendo dentro da morte de mim mesmo
Dentro dos versos que escrevo-te, dos versos que lê 
Dentro de um ermo
Que coube só a você

Palavras travadas na garganta 
Aços tortos entram em atritos 
De minha alma, em silêncio seco, apenas se ouve os gritos 

Vivo de sonhos nunca sonhados, noites nunca dormidas 
Perfídias que alimentaram o ego e foram retraídas 
Simples lembranças que eram doces da alma
Hoje são amargas recaídas  

(Madame Rai/Thalles Nathan) 23/02/12


    

Refeie














Abelhinha pousou na rua
Refém do pólen... rastros de seus passos
Martírio em malabarismos; felicidade a si insinua...
Dança pela pérgula... rotações de flor em flor
Marcas perpétuas em tua pele se tatuam  

(Thalles Nathan) 24/02/12